A história da I.M. – do preconceito e descriminação ao sucesso no tratamento

I.M. tem 36 anos de idade, feminina, negra, residente no bairro Nkobe, província de Maputo e vive maritalmente. Para ela, a oportunidade que teve com o projecto mudou a sua vida: “ Tudo começou no ano de 2013, quando Eu estava grávida, e fazia consultas pré-natais no Centro de Saúde de Nkobe, onde fazia testagem para o HIV a cada consulta que tinha com resultado de HIV indeterminado. No 9° mês de gravidez fiquei muito doente, e fui novamente ao centro de saúde de Nkobe marcar nova consulta pré-natal. Nessa consulta fizeram-me novamente o teste de HIV, e acusou positivo e fui recomendada a iniciar o tratamento.

Informei ao meu esposo sobre o que estava a acontecer, e ele começou a descriminar-me, já não durmia em casa, não cuidava de mim como devia. Nessa altura iniciei o tratamento antiretroviral, e confesso que não tinha boa adesão por conta da descriminação do meu esposo.

Os dias de parto estavam próximos, e dei a luz a uma menina linda. A menina perdeu a vida quando tinha 8 meses. Os dias que se seguiram a morte da minha filha foram difíceis, e não tinha apoio moral do meu marido. Ele bebia muito, foi solicitado para fazer o teste de HIV e rejeitou, pelo que até agora não aceita fazer o teste de HIV, alegando que está bem.

Eu fazia as consultas no Centro de Saúde de Nkobe, e não tinha boa adesão ao TARV. Comecei a sair manchas na minha pele, e fui medicada com algumas pomadas, mas não tive melhorias. A situação foi agravando, e comecei a sentir uma dor e aumento do tamanho da minha perna direita. Fui medicada com medicamentos que desconhecia, mas que não melhoraram a minha dor.

Meu marido queimou os meus medicamentos e o cartão das consultas no Hospital, e não tomei os medicamentos durante algum tempo, as manchas no corpo aumentaram, a dor e o tamanho da perna direita também aumentou, e saí borbulhas grandes e doía muito em todo o corpo, e andava com muita dificuldade por causa da dor na perna direita e em todo o corpo.

Fui para Centro de saúde da Machava II e fui observada por um Médico, deu-me guia de transferência para Alto Maé, e lá fizeram-me muitas análises, e fui observada por muitos Médicos, e informaram-me que além do HIV, Eu tinha um tumor chamado sarcoma de Kaposi, que havia se espalhado em todo o meu corpo, e que estava a causar toda aquela dor.

Informaram-me ainda que para que o tumor passasse, teria de ser submetida a um tratamento não inferior a 2 anos, e que o fim do tratamento iria depender da resposta do meu organismo para com o tumor. O tratamento consistiu em iniciar quimioterapia a cada 15 dias. Iniciei com o tratamento em Maio, e passadas algumas semanas senti melhorias da dor, as borbulhas começaram a diminuir de tamanho, e depois de algum tempo desapareceram.

Comecei a melhorar bastante, e passado algum tempo sentí-me novamente bem, as pessoas ao meu redor começaram a ver a minha melhoria, o meu marido também mudou de comportamento, e voltei a ter uma vida quase normal. Ainda não terminei o tratamento, mas estou melhor, apenas sinto uma dor no peito quando me administram o soro vermelho.

Estou muito feliz, quando fiquei doente não conseguia/podia trabalhar, apenas rezava noite e dia.

De momento já consigo fazer as minhas actividades de rotina, já consigo ir á Machamba cultivar productos para o meu sustento, e tenho oportunidade de entrar como operária numa fábrica na Cidade da Matola, tudo isto graças a melhorias no meu estado de saúde”.

Antes

Depois

Paciente diagnosticada com Sacorma de Kaposi antes e depois (fotografias tiradas com o consentimento da paciente).

Muitas pessoas podem estar a passar pelos mesmo ou problemas similares, e não sabem a quem recorrer para partilhar a dor (a situação difícil que enfrenta) e poder ter apoio e acabam se insolando das pessoas. Apesar da infecção pelo HIV ser muito antiga e histórica, e existir muita informação e tratamento que torna o vírus indetectável, mas há ainda muita discriminação no seio das pessoas o que dificulta a adesão no tratamento antirretroviral o que concorrer para a ocorrência de doenças oportunistas e complicações que podem levar a morte se não forem prontamente tratadas. O acesso atempado aos cuidados de saúde também é importante para evitar complicações e/ou óbitos.

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